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terça-feira, janeiro 31, 2006

VPV

Sobre Vasco Pulido Valente ouve-se com frequência: "Não concordo com quase nada do que escreve mas gosto muito de o ler". A mim interessa-me a segunda parte da frase; há mais de quinze anos que me interessa a segunda parte da frase. E por isso só posso ficar radiante com as novidades. Seja muito bem vindo, Vasco, e espero que não se enfade depressa.

segunda-feira, janeiro 30, 2006

Um, ninguém e cem mil



Ao vaguear pelos blogs, penso por vezes nas reflexões de Pirandello em Uno, nessuno e centomila (1925-26). É a história de um homem, Moscarda, que através de um simples comentário da mulher ao seu nariz ("Olha bem para ele: descai-te para direita") vê a sua identidade posta em causa e descobre que há uma infinidade de Moscardas na perspectiva dos outros. Esta "fragmentação", explorada obsessivamente no teatro de Pirandello, leva o protagonista ao reconhecimento das múltiplas consciências e de uma verdade terrível, inescapável: não conseguimos ver-nos viver. E portanto não fazemos a menor ideia se a imagem que temos de nós corresponde à imagem projectada para os outros. Pior: nem sequer sabemos qual delas é mais verdadeira. E se pensarmos que cada pessoa poderá ter uma diferente... Bom, então já compreendemos a espiral de loucura em que mergulha o personagem: obcecado com a "perseguição do estranho", que desaparece sempre que é visto ao espelho.

E vinha isto a propósito dos blogs. É que projectamos muito e por vezes tomam-nos por quem não somos (ou pensamos ser) e criam-se ideias erradas (ou certas) a partir dos posts que publicamos. Convém reflectir nisto antes de participar em qualquer mostra pública (mais ainda quando não vemos o público nem lhe conhecemos a procedência). Isto é válido para todos, evidentemente. Mas se no caso de uma figura pública, como Pacheco Pereira, que quase todos dias vemos ou lemos, essa personalidade (ou nariz) está já estabilizada, ou de tal forma esfrangalhada (o que vai dar ao mesmo), e o próprio está consciente, assumindo a inevitabilidades dos processos (e a sua impotência perante eles); trata-se de alguém experiente, que se largou à arena voluntariamente e possui já mecanismos para limitar os danos (ou pelos menos sabe da existência deles).

O mesmo não acontece àqueles que "crescem em público", já mais conhecidos ou ainda anónimos. Para não falar do habitual catálogo de disposições, confissões ou gostos pessoais, cinjo-me à questão das polémicas (que tantas vezes evoluem em tempo real). É neste ponto que devemos ser mais cuidadosos. Porque se já é difícil controlar o efeito dos nossos narizes quando somos ponderados e julgamos estar próximos do que pensamos (logo, mais seguros e preparados para as reacções), é imprevisível o resultado de uma "escrita a quente". Porque não é reflectida (ou suficientemente reflectida) e, a prazo, pode não pertencer a ninguém - não nos revemos nela, não podemos defendê-la (ou defendemos debilmente e por birrice) e, ponto três, projectamos algo que é falso para o meio dos outros. (E nós já temos suficientes chatices com aquilo que julgamos ser verdadeiro).

(...) Sejamos sinceros: nunca vos passou pela cabeça quererem ver-se viver. Esperam viver para vocês, e fazem bem, sem pensarem naquilo que, entretanto, possam ser para os outros; não porque a opinião alheia não vos interesse para nada, porque vos interessa e muito; mas porque vivem na ilusão tranquila de que os outros, de fora, devem ter de vocês a imagem que vocês têm de vocês próprios.
E se depois alguém vos faz notar que o vosso nariz descai um nadinha para a direita... não?, que ontem disseram uma mentira... nem assim? (...)

segunda-feira, janeiro 23, 2006

Notas avulsas sobre 22

Soares: Era o meu candidato e lamento este descer do pano sobre a sua vida política (se é que é mesmo o final da peça). Escolhi votar nele por três razões fundamentais: a primeira é que olho para o século XX e me surgem duas figuras que se sobrepõem a todas as outras na vida política portuguesa. Uma por más razões (Salazar), e outra, apesar de tudo, pelas boas razões (Mário Soares). O segundo motivo é que entendo que um Presidente da República (pelo modo como está definido na Constituição) deverá ser, acima de tudo, um regulador das instituções e um representante do país. E eu imaginava um mandato sereno de Soares, figura respeitada e prestigiada. Imaginava-o quase a dormitar na sua poltrona, ao longo de cinco anos, sem interferir com o governo e deixando uma imagem simpática do país. A terceira razão é prosaica: não havia mais nenhum candidato que me entusiasmasse.

Cavaco: Acho-o um personagem seco e desinteressante, o tecnocrata que gerou o novo riquismo português em época de vacas gordas e não contribuiu para a necessária "reforma de mentalidades". Mas não me causa pavor o Cavaco (ao contrário de alguns "cavaquistas"), e até lhe reconheço boas características: a capacidade de trabalho e o rigor. Durmo descansado, na esperança de que as veleidades de alguns dos seus apoiantes não se confirmem e de que ele próprio refreie os seus ímpetos intervencionistas. É agora o meu Presidente e merece-me respeito.

Alegre: Ainda pensei, inicialmente, votar Manuel Alegre. Mas depois das entrevistas, dos debates e da maior parte das intervenções a que asssti, o poeta apareceu-me como balofo. A cruzar retóricas provincianas da tourada e do bom vinho com a evocação do Portugal glorioso dos Lusíadas. Sem conhecimento das matérias, sem uma noção do cargo. Apresentando-se como enfant terrible do sistema, quando toda a vida fez parte desse sistema e só não continuou porque foi rejeitado. A famosa "cidadania", muito francamente, soa-me a bullshit, mas um milhão de votos é algo para reflectir. E talvez Alegre seja o homem errado para as questões certas.

Sócrates: A imagem do Primeiro Ministro apoiado numa muleta é bem o símbolo do actual momento no Largo do Rato. Toda a gestão das presidenciais foi desastrosa para o PS, e bem pode o seu líder suspirar de alívio pela ausência de eleições nos próximos três anos. A cena triste de barrar a visibilidade a Manuel Alegre, interpondo a sua declaração no momento em que o poeta falava, foi absolutamente deplorável.

TVI: Consegue sempre levar o prémio da boçalidade e do mau gosto. Eu vejo dois minutos de Manuela Moura Guedes e fico mal disposto. É a televisão da acrimónia, do boato, do enxovalho em público dos convidados, da opinião imbecil de gente que não consegue ficar calada. E das sondagens mais bizarras de que há memória.

E pronto: a vidinha segue dentro de momentos.

domingo, janeiro 22, 2006

E pronto

Reflexão (um pouco tardia)

Queremos, não queremos, depois voltamos a querer e a não querer.
E assim passam os dias.

quinta-feira, janeiro 19, 2006

O lado da vitória

As sondagens podem não prever coisa nenhuma mas têm um efeito claro sobre os indecisos - o lado da vitória é irresistível.

quarta-feira, janeiro 18, 2006


Livraria em Londres, 1941. Imagem da colecção Hulton Getty

terça-feira, janeiro 17, 2006

'Jarhead' ou a nostalgia de uma boa morte

A grande preocupação de Jarhead, realizado em 2005 por Sam Mendes, parece ser a de nos dar uma "visão nostálgica" do soldado de infantaria. O filme explica-nos, a partir da experiência da primeira guerra do Golfo, como o soldado sofre durante o treino, como lhe é incutida a agressividade guerreira que não olha a questões políticas nem interroga as suas missões. O soldado é treinado para matar, e esse objectivo deverá mesmo transcender o "não matarás" escrito na bíblia.

Mas além de uma obrigação, matar deverá ser também um desejo. O soldado andou a treinar-se para aquilo: é justo que possa agora matar uns quantos. E entra aqui a "nostalgia", a subtração desse "gozo" que a guerra moderna inevitavelmente traz. Os soldados queixam-se da aviação, queixam-se dos mísseis e das armas de longo alcance, queixam-se da superioridade militar do seu exército. O soldado serve agora para limpar retretes na rectaguarda, para debelar o tédio com masturbações e jogos de balneário. O soldado, quando chega à guerra, vive entre os fantasmas da traição no país distante e os tempos mortos naquele lugar estranho onde não acontece nada.

E quando finalmente se põe em marcha, após longos meses a limpar a arma, depara-se apenas com a destruição provocada pela tecnologia. Os inimigos estão mortos, carbonizados, e as suas armas quase nem se ouviram. A cena chave é quando dois snipers são enviados para um aeroporto com o objectivo de eliminar uns oficiais. Era o momento de glória, o culminar de um percurso árduo em que o único pensamento era aquele: poder matar. Mas acontece que os aviões arrebentam com tudo e eles vão para o desemprego. Sentem-se frustrados, inúteis, e entretanto a guerra acaba. Não mataram ninguém (nem sequer dispararam), andaram para ali a sujar-se uns dias no meio do deserto.

E daí a recuperação de imagens de Apocalypse Now, e da cena em que os helicópteros iniciam o ataque ao som da Cavalgada das Valquírias, de Wagner. A euforia com que os soldados assistem ao filme é a nostalgia do tempo em que "alguém se divertia", em que alguém matava e podia realmente ver aquilo que matava. No final de Jarhead ficamos inconsoláveis, a chorar baba e ranho pelos pobres soldados, desprovidos da sua função e destino, arrancados à glória por essas malditas máquinas que comem tudo e não deixam nada.

sábado, janeiro 14, 2006

Big dreams

There's nothing that i wanna do
More than get alone and be with you
Trouble with dreams is they don't come true
And when they do they can't catch up to you

You don't need a thing from me
But i need something big from you
'cause you know i've got
An awful lot of big dreams

I'm walking down a lonely road
Clear to me now but i was never told
Trouble with dreams is you never know
When to hold on and when to let go

If you let me down it's alright
At least that leaves something for me
'cause you know i've got
An awful lot of big dreams

This is the life that i must lead now
Crossing fingers and wiping brow
Trouble with dreams is you can't pretend
Something with no beginning has an end

You don't need a thing from me
But i need something big from you
'cause you know i've got an awful lot of big dreams

Eels, Trouble With Dreams, do fabuloso Blinking Lights and Other Revelations

sexta-feira, janeiro 13, 2006

O estado do país

Enquanto falava do estado do país procurava acender o cigarro. Insistia, insistia, mas o isqueiro apenas dava faíscas e nenhuma chama. Então pôs-se louco e gritou: "foda-se! neste país não funciona nada!"

A interpretação difícil

Numa terra de gente seca e antipática os momentos inesperados de simpatia são tão bizarros que quase os confundimos com ofensas. Dizem-nos, sorrindo, por trás do balcão: "tenha a bondade, caro senhor; muito obrigado, caro senhor", e pensamos que estão a gozar connosco ou nos querem engatar.

sexta-feira, janeiro 06, 2006

Ecos

Senti uma espécie de medo ancestral ao confrontar-me com este quadro de 1950 no Museu de Serralves. De grandes dimensões (cerca de 2 metros por metro e meio), pertence a uma suite de pinturas descobertas recentemente e que lançam novas pistas sobre o universo visceral e enigmático do pintor irlandês. Já li as mais diversas narrativas sobre esta imagem: que se trata da impotência do homem cercado pelas muralhas do quotidiano, que se trata do rosto do poder, agarrado à cadeira contra todos os inimigos e descendentes, que se trata da tortura, que se trata de um pesadelo. Imagino que se possa tratar de todas essas coisas e de nenhuma. Imagino que seja válida qualquer interpretação. Francis Bacon dizia que o advento da fotografia e do cinema trazia novas exigências. Já não era possível reproduzir as coisas literalmente: era necessário introduzir o jogo. Para que "a sensibilidade se abrisse através da imagem". Study after Velasquez é daquelas imagens que me persegue. Como um eco sombrio e inexplicável, que me transmite um aviso ou uma súplica.

Francis Bacon, Study after Velasquez

O jogo

You see, all art has now become completely a game by which man distracts himself; and you may say it has always been like that, but now it's entirely a game.

Francis Bacon

Minimum - Maximum

Eu leio os teus posts, desde que sejam curtos.

quinta-feira, janeiro 05, 2006

A palavra 'preto'

O post Vigarice e caldo verde suscitou a reacção de um leitor/a, que critica o facto de eu ter escrito a seguinte frase: "A selecção (banalíssima) esteve a cargo de uns pretos que lhe iam dando lume." O problema aqui está na palavra "pretos", que é considerada deselegante e ofensiva. Já não é a primeira vez que assisto, ou participo, em discussões sobre a utilização da palavra "preto". E como é tema que me interessa, sobretudo pela implicação ao nível da linguagem, resolvi responder-lhe aqui, onde se gerou a controvérsia.

Reproduzo um excerto do comentário; o resto pode ser encontrado na caixa do post.

"(…) Sei que não és racista mas a frase é, na minha modesta opinião, bastante ofensiva… se fossem brancos, a frase não "colava" bem, ou colava? Dirias uns tipos, fulanos, sujeitos, beltranos, sicranos, indivíduos, criaturas. Agora brancos?? Duvido. E é exactamente por isso que é desagradável. O preto aparece como adjectivo e não como sujeito. A carga é essa, quer tu queiras, quer não. Os pretos (negros, coloridos, africanos, whatever) aparecem como uma espécie de seres de segunda categoria que estão ali para prestar vassalagem ao Shaun Ryder (estive lá, não o contesto!). A questão não é o nome, seria o mesmo se usasses arianos, islâmicos ou um outro termo qualquer carregado de conotações históricas, nesta época da história, neste lugar da história. A História é pesada, e nós têmo-la como herança. O KKK existiu, bem como a escravatura, e as desigualdades sociais ainda subsistem. (…)"

A verdade é que hesitei um pouco antes de escrever "pretos" (não me passou pela cabeça escrever "negros" – porque "negros", tal como "pessoas de cor", ou eufemismos do género têm para mim um significado detestável: são a submissão à cartilha do mais hipócrita que há no politicamente correcto: a manietação da linguagem, o medo de ofender [como se eles fossem uns coitadinhos, umas vítimas, e não pessoas de pleno direito, como eu as vejo]. Ter medo de dizer "pretos" revela sobretudo insegurança quanto à nossa própria posição. Quem diz muitas vezes "pessoas de cor" está ataviado ou é um racista reprimido. E eu não tenho problemas desses). Mas hesitei antes de escrever "pretos", por uma questão estética. Pensei em "gajos", "tipos", "mecos" ("mecos" ficava bem: "A selecção (banalíssima) esteve a cargo de uns mecos que lhe iam dando lume"). Mas depois achei que ficava melhor "pretos", até porque eles eram pretos e achei que tinha mais graça escrever assim (mas neste ponto não posso contestar uma objecção estética – "acho que fica mal" é perfeitamente legítimo).

Discordo é no plano da conotação. Em primeiro lugar, porque se tratava de um texto bem disposto (apesar de ranzinza), e naquele contexto até admito que houvesse um certo trocadilho - mas que diabo, as melhores anedotas são justamente as que violam os tabus: os pretos, os gays, os paralíticos. Dizia um dos Monty Python que aquilo com que não se pode gozar não é humano e eu dou-lhe inteira razão. Até acho que as anedotas sobre pretos ajudam a suavizar a questão do racismo e nos tornam mais civilizados. E é também por isso que a palavra "preto" deverá ser utilizada, não obstante a "carga histórica" referida no comentário. À falta de melhor termo ("pessoa de cor" é pomposo, "negro" é dizer basicamente o mesmo, "colorido" é ridículo, e "bléque" até é simpático, mas é mais utilizado em Lisboa; o mais adequado seria "africano", mas nem todos os africanos são pretos, nem nós nos referimos ordinariamente a um louro como "europeu", por exemplo: chamamos-lhe "louro"); à falta de melhor acho que devemos chamar "pretos" aos pretos. Sem traumas nem complexos. Nem medos históricos. Até como afirmação da nossa repulsa pelo racismo, ao desconectarmos dessa relação negativa com a palavra, sendo naturais quando nos referimos a um preto. Ou quando nos referimos a um branco.

Só para terminar: é óbvio que, para mim, pretos ou brancos são ambos "gajos" ou "tipos". E apenas uso "preto" para simplificar a descrição. Em Portugal, sei que a maior parte são angolanos ou de Cabo Verde, mas se estou em França não faço a mínima ideia de que país são. Logo, aqueles tipos que estavam a incendiar carros eram todos pretos. (scherzando ;)

terça-feira, janeiro 03, 2006

Portugal (um ano qualquer)

(...) O Governo espera que o PIB português cresça apenas 1,1 por cento em 2006. A generalidade das organizações financeiras internacionais não espera muito mais. Isto significa que Portugal vai ser o país que cresce menos entre os 25 membros da União Europeia e entre os 30 membros da OCDE. Pelo sexto ano consecutivo, a economia portuguesa vai afastar-se da média da União (...)

retirado do Público.

Leio isto todos os anos e pergunto-me: o que é que tem Portugal que é diferente dos outros?

Vigarice e caldo verde

2006 começou com um barrete: a festa no Teatro Sá da Bandeira onde se anunciava a actuação dos Happy Mondays. Havia logo truques no cartaz: por baixo do nome da banda, umas entrelinhas confusas disfarçadas de denominações trendy para enganar otários: "dj set & live pa with Shaun Ryder + Kav" (mas podia ser "Shaun Ryder + dj set with live pa & Kav" que a vigarice era a mesma: não se especificava que não haveria um concerto de Happy Mondays – o nome aparecia em letra garrafal e induzia, efectivamente, a um espectáculo da banda). Se era um dj set ou um live pa ou whatever the fuck they want to call, então que dissessem que essas coisas iam acontecer com a presença de elementos dos Happy Mondays, deixando bem claro que não haveria nenhum concerto nem mini concerto nem música ao vivo. Arranjassem outra solução gráfica para o anúncio e fossem menos desonestos. Porque o que ali se viu foi um ex-toxicómano (e digo "ex" para ser simpático, porque não faço a mínima ideia se é "ex"), viu-se um ex-toxicómano, debilitado e gordo, encostado à aparelhagem a fumar cigarros. Este "encostado" é literal: Shaun Ryder, que eu visse, não pegou num único disco e praticamente não se mexeu. A selecção (banalíssima) esteve a cargo de uns pretos que lhe iam dando lume. E o tal "live pa", pelos vistos, era a inclusão de uns desmaiados "yeaaah" em temas dos Happy Mondays. Triste figurinha do senhor de Manchester, que alinhou na intrujice e provou estar de rastos. Felizmente não paguei por esta fantochada, e felizmente houve caldo verde, cerveja e amigos espanhóis no dia seguinte.