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domingo, julho 09, 2006

Mas foi bom e tal



Sim, sim, é muito bom e tal um pequeno país, periférico e pobre, encontrar-se entre as quatro melhores selecções do mundo. É verdade que nunca deslumbramos, no sentido em que as grandes selecções do passado deslumbraram, mas também é verdade que adquirimos algo que nos era estranho: uma certa manha e cinismo que foi dando os seus frutos e que, de facto, tornou a selecção numa equipa temível (como talvez só tenha sido a de 66, mas dessa não me lembro). Sim, sim, foi bastante positivo chegarmos onde chegámos, e podemos inclusive despejar a frustação do “quase” em cima do Pauleta, o jogador mais inútil do Mundial de Futebol. Podemos fazer uma série de cálculos e especulações (ou mesmo culpar o árbitro à falta de melhores desculpas). Sim, sim, não foi nada mau, ficámos em quarto lugar, é um grande orgulho e essas coisas todas. Mas verdadeiramente o que interessa, erguer o caneco, ser campeão, vencê-los a todos, ir directamente para a história dos mundiais e encher o país de glória, pelo menos por um dia, isso continua adiado e, com poucas excepções (Alemanha, 1990?), é um feito apenas ao alcance de equipas extraordinárias e quase sobrenaturais. Mas foi bom e tal.

A imagem acima corresponde ao jogo de futebol mais longínquo que a minha memória retém. A final de 1978, no estádio do River Plate, entre a equipa anfitriã, a Argentina, e a selecção holandesa. O resultado final, obtido no prolongamento, foi 3-1, favorável à Argentina, que se sagrou pela primeira vez campeã mundial. Recordo este jogo, que vi numa televisão a preto e branco, sobretudo pela enorme quantidade de papel higiénico e confetis que semeavam o relvado. E recordo também os guedelhudos argentinos, cada qual mais piroso e grotesco. Foi um mundial polémico, que esteve para não acontecer, em virtude do boicote que se preparava ao regime militar do general Videla (que chegou ao poder com um golpe de estado, em 1976). Entre outros “casos”, houve a fraude dos controlos antidoping (aparentemente era sempre o mesmo argentino a fazer chi-chi); um resultado supostamente combinado contra o Peru (ficou 6-0); e a ausência de Cruyff, a estrela holandesa, que se recusou a participar no Mundial (uns dizem que pelo general, outros que por causa de uma camisola personalizada que o jogador insistia em usar). Como retaliação pelas suspeitas, os argentinos deixaram os holandeses pregados no relvado durante dez minutos, antes de entrarem finalmente em campo para disputar a final. Depois ganharam, e foram uma dessas equipas extraordinárias e quase sobrenaturais.