António
Foi um prazer ver o António Lobo Antunes na entrevista que deu ontem à RTP. Quantas vezes se vê na televisão alguém que realmente fala, que mistura a sua presença física com o discurso de forma tão vulnerável e genuína. Que não se preocupa em expedir frases para a audiência, em adaptar-se ao formato, em comunicar num português televisivo. Alguém que não consegue deixar de ser como é, e que vai dizendo o que lhe apetece, as coisas que se lembra, sempre com uma simplicidade e sabedoria absolutamente desarmantes. Das ideias fortes como a idade com que cada um nasce, e que permanece a mesma até ao fim. As pistas sobre o modo de escrever (“as primeiras provas contêm já em si as soluções para o que será o texto definitivo.”). Até às pequenas crueldades bem humoradas (“Portugal tem este fascínio pelos pares românticos. A mim, calhou-me o Saramago. Podiam ter sido os três porquinhos ou a Branca de Neve."). Alguém que dá inteligência e humanidade ao caixote do esterco e dos chavões. Boa nota para a condução de Judite de Sousa, que deixou falar, soube ouvir, e interveio apenas com a curiosidade de quem se interessa e não com a agenda destrambelhada de “serviço público”.
Li muito pouco do António. Estou-lhe em falta.
Li muito pouco do António. Estou-lhe em falta.
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