Nós e aquilo
Escrever sobre um espectáculo de Sigur Rós é exercício inútil. Vai-se dizer o quê, que no terceiro tema revisitaram a quarta faixa do primeiro álbum. Ou que "as brumas sonoras formavam tapetes para a interpretação de Jonsi". Ou disparates destes. Pode-se descarregar adjectivos: glorioso, hipnótico, magnífico. "Uma droga espiritual", como ouvi dizer. Mas não serve de nada nem dá ideia alguma. O único texto aceitável seria um poema épico por alguém que soubesse fazer um poema épico. O resto serve apenas para encher jornais e experimentar a escrita. Porque Sigur Rós é um contacto puro com nós próprios (pelo menos com aqueles que se calam durante o espectáculo). E é puro porque é abstracto (como a música clássica), dirimindo-se as mensagens e os lugares comuns, sejam eles estados de espírito ou reflexões. Pode ver-se toda a gente com a mesma cara, aparvalhada, mas o que vai dentro de uma não é igual ao que vai dentro de outra. Poderá sugerir-se alguns ambientes, alguns temas. Em entrevistas eles falaram da "infância". Mas nós não percebemos islandês. O que eles dizem ali não nos diz nada. Não há qualquer fronteira à interpretação. Podemos fechar os olhos e seguir. Para bem longe, como todos os outros, mas para um lugar diferente. Nosso. Porque durante aquelas duas horas somos só nós e aquilo.
Sim, há uma certa paz mística ou coisa do género. E é ao ver concertos destes que percebo que já não há pachorra para bandas de "meia bola e força". E resulta muito melhor ao vivo do que em disco (e o último disco nem sequer é tão bom). Mas o espectáculo foi tão bom como o primeiro. E… olha.
Em breve, tentarei colocar imagem do Coliseu do Porto.
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