Ribeira
Tenho seguido a série de posts no Da literatura sobre o Bairro Alto, onde se tem apontado sobretudo a sujidade e a bandalheira. Eu, quando vou a Lisboa, gosto de passar no Bairro, mas também não saberia dizer se é mais imundo agora ou há 20 anos. É tão imundo como a Chueca, em Madrid, ou a Malasagna (se falamos de grafitti e de acumulação de copos e de enxúndia); é tão imundo como Kreuzberg ou outras zonas nocturnas de Berlim; e é um bocado mais imundo que Trastevere (mas a bandalheira é igual). O que está extremamente limpinho é a Ribeira do Porto. Tão limpinho que ninguém se atreve a ir lá sujá-la. Há mais de cinco anos que resplandece.
Mas eu preferia, como os lisboetas, estar a dizer que aquilo é tudo um nojo e uma pouca vergonha. Era sinal que valia a pena dizer alguma coisa. Porque sobre a Ribeira, actualmente, não há nada a dizer. “Ou és assaltado ou és multado”, dizia alguém há uns tempos. Eu acho que já nem assaltado. Não há ali ladrão que subsista. Primeiro, fecharam os bares históricos: o Meia Cave ou o Aniki Bobó. As esplanadas juntam alguns turistas nos meses de Verão (fui lá duas vezes em Julho e vi grupos de loiras no desemprego), e no resto do ano são habitadas por jagunços. Depois há os “novos horários”, uma das razões invocadas para o degredo. Aparentemente, as licenças são válidas até às duas horas, o que seria uma explicação. Mas o único sítio onde vou, muito de longe a longe, além do Boa Nova (pelas pataniscas), é o Mercedes, que fecha depois das quatro. Nunca percebi nada dos “novos horários”.
Percebo o cansaço. A pancadaria constante, os sacos de água e de lexívia, a sensação de invadir a aldeia dos gauleses. Houve sempre os de lá e os de fora, coisa inconcebível para uma zona histórica, que devia ser de todos. Isto cansou as pessoas. Que deixaram de lá ir. Agora, efectivamente, a Ribeira está um brinco. Com polícias por toda a parte e as paredes limpas. Só não há é qualquer razão para lá pôr os pés.
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