Importa-se de repetir?
Num simpósio sobre arquitectura, chegava o momento do público fazer perguntas. Havia um sistema de tradução simultânea, e os perguntadores falavam em português. O destino eram dois americanos. Uma das questões era mais ou menos esta: o facto do seu edifício parecer integrar a rua onde se localiza foi intencional? Questão simples, formulação difícil:
"Queria saber, e antes de mais nada cumprimento-vos, olá aos dois, queria saber se quando projectaram o museu xpto, e o facto desse museu se encontrar na rua xpta, se houve alguma intenção, digo, intencional, e isso parece evidente, de concomitar as paredes do museu xpto, e agora lembro-me de dois outros exemplos na cidade x e na cidade y, em que se procurou basicamente o mesmo, isto é, ter em linha de conta a projecção, no momento em que se pensava nas características da rua xpta, se realmente, e como nos aparece nas imagens, que até evocam o edifício xpts, já após a remodelação, enfim, se foi determinante esse objectivo de aproveitar a localização, mas também aqui temos de convir que já não seria novo, nem surpreendente, até no contexto do vosso trabalho, aquilo que parece ser uma desmaterialização de fachadas com o intuito, sei lá, mas também não quero especular, apenas perguntar, enfim, quero perguntar, gostava de saber, se a ideia da rua xpta se tornar parte do edifício, pelo menos aparentemente, ou como encenação, foi realmente de propósito ou aconteceu por acaso?"
Não sei que voltas e trevoltas deu o pobre intérprete para descodificar este texto digno do teatro de Beckett. Mas no final, um dos americanos, bastante zonzo, reagiu apenas: Could you say that again?
"Queria saber, e antes de mais nada cumprimento-vos, olá aos dois, queria saber se quando projectaram o museu xpto, e o facto desse museu se encontrar na rua xpta, se houve alguma intenção, digo, intencional, e isso parece evidente, de concomitar as paredes do museu xpto, e agora lembro-me de dois outros exemplos na cidade x e na cidade y, em que se procurou basicamente o mesmo, isto é, ter em linha de conta a projecção, no momento em que se pensava nas características da rua xpta, se realmente, e como nos aparece nas imagens, que até evocam o edifício xpts, já após a remodelação, enfim, se foi determinante esse objectivo de aproveitar a localização, mas também aqui temos de convir que já não seria novo, nem surpreendente, até no contexto do vosso trabalho, aquilo que parece ser uma desmaterialização de fachadas com o intuito, sei lá, mas também não quero especular, apenas perguntar, enfim, quero perguntar, gostava de saber, se a ideia da rua xpta se tornar parte do edifício, pelo menos aparentemente, ou como encenação, foi realmente de propósito ou aconteceu por acaso?"
Não sei que voltas e trevoltas deu o pobre intérprete para descodificar este texto digno do teatro de Beckett. Mas no final, um dos americanos, bastante zonzo, reagiu apenas: Could you say that again?
2 Comments:
Viva, só hoje soube d'A Tesoura. Pois, bem regressado.
Caro Filinto, espero que te tornes visita assídua deste novo boteco. Um abraço
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