Vigo
Vigo sempre foi ir a Espanha sem sair do País. Em pequeno, com os meus pais, ainda com fronteiras e passaportes (naquele século em que o escudo valia mais que a peseta), associava a cidade a chocolates e guloseimas (sobretudo em Tui, que ficou fora do mapa) e a longos passeios num sítio onde as pessoas falavam um português esquisito. Era um acontecimento ir a Vigo, e à parte o controlo fronteiriço (que interrompia a viagem uma meia hora, junto ao rio Minho), não sentia verdadeiramente que passasse de um país a outro. A mesma paisagem, os mesmos rostos, um português esquisito.
Depois, na adolescência e nos primeiros vintes, Vigo era sobretudo farra. As passagens de ano a queimar bares na Calle de Viños e na Churruca, o excesso de portugueses bêbados (que se cumprimentavam eufóricos por se cruzarem no estrangeiro, após a diáspora vinte minutos antes) e aquela avalanche nas ruas, tão galega e tão espanhola. Vigo era uma espécie de Braga sem arcebispos, com mulheres atrevidas e gente ruidosa. Uma cidade do Norte onde a familiaridade se cruzava com o espírito desempoeirado dos espanhóis. Um privilégio, a hora e meia de distância. Sem nunca a ter visto como uma cidade bonita (como Santiago, Salamanca ou Gerona), é talvez a cidade espanhola por que tenho mais afecto. É a nossa cidade do outro lado da fronteira.
Agora, anos mais tarde, e graças aos meus queridos amigos viguenses, conheci as praias da cidade (onde dei o primeiro mergulho do ano), e pergunto-me como foi possível esta proeza. Encontro sempre motivos para ir a Vigo, duas ou três vezes por ano, e não me recordo de ter estado em Samil (pelo menos durante o dia e em estado sóbrio), não me recordo de ter visto Cangas nem as ilhas Cíes, todo aquele recortado de pedra no horizonte. Definitivamente, abre-se um novo capítulo na minha relação com a cidade. Graciñas.
1 Comments:
Obrigado a ti por vir meu amigo, eres un personaje querido por Vigo y lo sabes
Te espero en Torrevieja
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