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sexta-feira, novembro 10, 2006

Notas sobre a subsidiodependência

Tal como o "antiamericanismo", ou o "antisemitismo", o termo "subsidiodependência" serve essencialmente para matar do debate.
É um subsidiodependente e está tudo dito. Ainda por cima, um subsidiodependente é um "pseudo-intelectual" ou um "intelectualóide", e nunca alguém interessado na cultura. São os "pseudo-intelectuais" que deixam de mamar, e as boas consciências celebram. Na sua esperteza saloia, o presidente da Câmara do Porto sabe bem o que faz.

O que muitos não sabem - sobretudo os que enchem a boca com a "subsidiodependência" porque foi uma palavra que ouviram - é do que falamos quando falamos de subsídios. Será dos 15 mil euros (cerca de 3 mil contos) que se destinavam à Fundação Eugénio de Andrade (e que de resto foram recusados)? Ou dos 20 mil euros (cerca de 4 mil contos) que seriam atribuídos ao Teatro Art’Imagem (também rejeitados por causa da célebre cláusula que impede os beneficiários de criticar a Câmara)? Goste-se dele ou não, o Art’Imagem existe desde 1981 e vem produzindo espectáculos com regularidade desde então. Há também os 25 mil euros (cerca de 5 mil contos) que serviriam este ano para apoiar o FITEI (e que ainda não se sabe se vão chegar ou não). Recorde-se que o FITEI é dos mais importantes festivais de teatro do país e que em 2007 cumpre a sua 30º edição. É contra estes "balúrdios" que as pessoas se revoltam?

Outra ideia fincada parece ser a de que os subsídios servem para sustentar todas estas estruturas e “pseudo-intelectuais”. Os subsídios não sustentam coisíssima nenhuma. Os subsídios apoiam, e apoiam com os valores atrás referidos - que são renováveis, ou não, dependendo de certas condições (a realização de X número de espectáculos por ano, por exemplo). Onde o papel da Câmara é decisivo é no aspecto logístico: na cedência de espaços ou em alugueres simbólicos a determinados projectos. Como o FITEI. Ou o Fantasporto. Ou a Feira do Livro. Daí que, ao alienar equipamentos públicos, como o Rivoli, a Câmara se está a eximir das responsabilidades. Não funciona bem? Tem má gestão? Problema da Câmara, que deverá encontrar soluções. Não pode é abdicar do Teatro Municipal, reabilitado com dinheiro público, e com compromissos agendados, e entregá-lo à discricionariedade.

Qualquer cidade tem o seu teatro municipal. Faz parte do caderno de encargos de um executivo. Se isto é a vanguarda, convém que se apresentem estudos e que nos expliquem qual é o novo paradigma e quais as suas vantagens.

(...)