Ecos
Senti uma espécie de medo ancestral ao confrontar-me com este quadro de 1950 no Museu de Serralves. De grandes dimensões (cerca de 2 metros por metro e meio), pertence a uma suite de pinturas descobertas recentemente e que lançam novas pistas sobre o universo visceral e enigmático do pintor irlandês. Já li as mais diversas narrativas sobre esta imagem: que se trata da impotência do homem cercado pelas muralhas do quotidiano, que se trata do rosto do poder, agarrado à cadeira contra todos os inimigos e descendentes, que se trata da tortura, que se trata de um pesadelo. Imagino que se possa tratar de todas essas coisas e de nenhuma. Imagino que seja válida qualquer interpretação. Francis Bacon dizia que o advento da fotografia e do cinema trazia novas exigências. Já não era possível reproduzir as coisas literalmente: era necessário introduzir o jogo. Para que "a sensibilidade se abrisse através da imagem". Study after Velasquez é daquelas imagens que me persegue. Como um eco sombrio e inexplicável, que me transmite um aviso ou uma súplica.
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home