O par de enxofre
Há um casalinho de meia-idade, um pouco sinistro, que encontro sempre que vou ler o jornal a um certo café. Estão lá antes de mim e continuam. Nunca os ouvi trocar palavra (apenas uma vez notei que o homem rosnava qualquer coisa e tinha a cara vermelha, enquanto a mulher baixava o rosto, muito submissa e atrapalhada). Imagino que ali estejam durante horas todos os dias. Há sempre livros e revistas em cima da mesa, mas nunca os vi pegar em nenhum. Sentam-se ambos de lado e ficam a olhar, ele com serenidade, ela sempre nervosa. Às vezes levanta-se, e minutos depois regressa, sem dizer nada e sem esperar nada. Ficam apenas a olhar a tarde inteira, acostumados à presença um do outro. Depois, raramente há gente nas mesas próximas. O homem fuma prolongadas cigarrilhas com um cheiro nauseabundo (ainda hoje desisti do jornal a meio). E realmente criam uma certa distância à custa do enxofre. É um casalinho de meia-idade, um pouco sinistro, que se vê através do fumo e do silêncio.
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