quarta-feira, agosto 31, 2005
Confessou-me a sua aspiração: "quando for grande quero ser fotógrafo e comunista".
Reentrada
Às vezes é difícil estar fora da agenda. Vejamos as parangonas do último dia de Agosto. Nos EUA, o furacão Katrina continua a devastar o sul do país e afogou uma das mais belas cidades americanas, Nova Orleães, causando centenas mortos, a destruição de milhares de casas e gerando o caos em toda a área. No Iraque, uma manifestação acabou em tragédia, quando surgiu o rumor de que haveria um bombista suicida infiltrado na multidão. O pânico levou à morte mais de 800 pessoas, que se atropelaram no meio do tumulto. Em Portugal, 40 mil professores deverão ficar sem colocação no próximo ano e os incêndios continuam a deflagrar no centro do País. Finalmente, Mário Soares anunciou hoje a sua candidatura à presidência da república (o que, não sendo uma catástrofe, também não é um estímulo). Deve ser em dias destes que todos concordam que reentramos.
terça-feira, agosto 30, 2005
Secção Trash (redux)
É fatal: bastou-me escrever "banging teens" e colocar imagem sexualmente ambígua para multiplicar o spam e as visitas.
segunda-feira, agosto 29, 2005
Secção Trash (3)
Para pessegadas destas mais vale os clássicos Wreckless Housewives ou Banging Teens In Bangkok. Em termos de cinema valem exactamente o mesmo e os actores são profissionais.
Secção Trash
“Com uma boa campanha é possível vender gelo a um esquimó”. Já não me recordo quem disse isto, se o Tio Olavo, o Ogilvy, o Seguéla ou outro pensador da publicidade contemporânea. Mas olhando para os cartazes que por aí andam, com a fronha de autarcas sorridentes ou compenetrados, olhando para aquele arranjo gráfico, para aquelas frases cuidadosamente lambidas por algum assessor ou copywriter, parece-me que nem as melhores rotundas se safam.
A arte de ler
O leitor que mais admiro é aquele que não chegou até à presente linha. Neste momento já interrompeu a leitura e está continuando a viagem por conta própria.
Mário Quintana, Do Caderno H
Mário Quintana, Do Caderno H
quinta-feira, agosto 25, 2005
Trilogia para B
Indignação. Aproxima-te o máximo que puderes do assunto. Sente-o revolver nas tuas entranhas.
Criação. Distancia-te o máximo que puderes do assunto. Distancia-te até deixares de o ver.
Acção. Verifica bem a distância a que está o assunto. Deixa fluir o bom senso, a educação.
Criação. Distancia-te o máximo que puderes do assunto. Distancia-te até deixares de o ver.
Acção. Verifica bem a distância a que está o assunto. Deixa fluir o bom senso, a educação.
quarta-feira, agosto 24, 2005
Pragmático
Na relação com os outros tinha dois tipos de abordagem: o desprezo (dedicado à maior parte) e a vassalagem (prestada a muito poucos, quase todos mortos).
A queda
Algumas árvores a arder perto da estrada. Podia ter feito algo, mas senti um certo medo e acelerei.
Reforços de Verão
Os emigrantes portugueses tornaram-se uma espécie de reforços de Verão no combate aos incêndios.
quinta-feira, agosto 18, 2005
Festival
Dos concertos que vi em Paredes de Coura 05, vou guardar na memória estes três:
Arcade Fire. Um espectáculo de luxo ao final da tarde. Eram oito horas e o recinto estava cheio, a provar que o fenómeno alastra com velocidade. E alastra com justiça, porque estes canadianos não são uma banda, são uma orquestra, um fino escol de músicos que constrói ambientes de claridade e nostalgia. Sofisticados como os Pulp, desvairados como os Talking Heads, e por vezes fúnebres como os Tindersticks, são do mais importante que há na pop actual. São daqueles que marcam e estabelecem. E contactar com isso, pela primeira vez, é um privilégio e um deslumbre.
Kaiser Chiefs. Não passarão de um hype que talvez esmoreça com o final do verão, mas são construtores rigorosos de canções. Não falha nada: os refrões catchy, as melodias airosas, os ritmos galopantes e eficazes. Tudo num caldinho da época e é contar as platinas e as manchetes. O grande interesse é estarem em flor, na fase em que sucedem coisas que vão para a história: em Paredes de Coura, o vocalista torceu o pé e mancou o resto do espectáculo. Uma coisa aborrecida para um grupo mais velho, uma lembrança histérica para cinco gaiatos.
Pixies. Escolhi uma fotografia simpática de Frank Black, mas os Pixies são insuportáveis: incapazes de um tema icónuo, incapazes de um rock menos poderoso e carismático. Alinharam túnel de canções perfeitamente encadeadas e sem pausas. Eram clássicos atrás de clássicos. Ninguém se recompunha de nenhum deles. Isto é gente que já não está entre nós: flutua no limbo das bandas que fizeram canções que nos salvaram.
Arcade Fire. Um espectáculo de luxo ao final da tarde. Eram oito horas e o recinto estava cheio, a provar que o fenómeno alastra com velocidade. E alastra com justiça, porque estes canadianos não são uma banda, são uma orquestra, um fino escol de músicos que constrói ambientes de claridade e nostalgia. Sofisticados como os Pulp, desvairados como os Talking Heads, e por vezes fúnebres como os Tindersticks, são do mais importante que há na pop actual. São daqueles que marcam e estabelecem. E contactar com isso, pela primeira vez, é um privilégio e um deslumbre.
Kaiser Chiefs. Não passarão de um hype que talvez esmoreça com o final do verão, mas são construtores rigorosos de canções. Não falha nada: os refrões catchy, as melodias airosas, os ritmos galopantes e eficazes. Tudo num caldinho da época e é contar as platinas e as manchetes. O grande interesse é estarem em flor, na fase em que sucedem coisas que vão para a história: em Paredes de Coura, o vocalista torceu o pé e mancou o resto do espectáculo. Uma coisa aborrecida para um grupo mais velho, uma lembrança histérica para cinco gaiatos.
Pixies. Escolhi uma fotografia simpática de Frank Black, mas os Pixies são insuportáveis: incapazes de um tema icónuo, incapazes de um rock menos poderoso e carismático. Alinharam túnel de canções perfeitamente encadeadas e sem pausas. Eram clássicos atrás de clássicos. Ninguém se recompunha de nenhum deles. Isto é gente que já não está entre nós: flutua no limbo das bandas que fizeram canções que nos salvaram.
terça-feira, agosto 16, 2005
segunda-feira, agosto 15, 2005
domingo, agosto 14, 2005
Post só para dizer isto
Hoje à tarde o termómetro de minha casa marcava 41º.
Quarenta e um graus. Foda-se...
Quarenta e um graus. Foda-se...
sábado, agosto 13, 2005
Mas agora está cheia de americanos
Vi hoje uma inscrição extraordinária, imagino que antiga, numa das paredes da Rua do Almada: "Fallujah resiste" e lembrei-me das últimas frases de Berlim no final da guerra, no momento em que os russos sacudiam a cidade: "Berlim ainda é alemã", por vezes acrescentadas a preto: "mas o ivan já cá está." No solidário Porto era 2005.
quarta-feira, agosto 10, 2005
Geómetra
Alinhava as ideias em frases curtas, incisivas. Tinha uma compreensão sintética do lugar - nem nas relações privadas se perdia em barroquismos e despachava amigos e amantes em pequenas orações de fonética irrepreensível e irrefutável.
Tinha um tom autoritário, enfatuado, como se cada sílaba trouxesse um pouco de civilidade aos semelhantes. Mas quais semelhantes? Ninguém era capaz de reduzir o mundo assim, àquelas frases definitivas e quadriláteras.
Sentia-se abastardado num meio em que tudo era excessos e desejos. Mas ele era um campeão da geometria. Não desistiria nunca de eliminar, de compactar, até que o mundo se visse digno da sua inteligência rectangular.
Tinha um tom autoritário, enfatuado, como se cada sílaba trouxesse um pouco de civilidade aos semelhantes. Mas quais semelhantes? Ninguém era capaz de reduzir o mundo assim, àquelas frases definitivas e quadriláteras.
Sentia-se abastardado num meio em que tudo era excessos e desejos. Mas ele era um campeão da geometria. Não desistiria nunca de eliminar, de compactar, até que o mundo se visse digno da sua inteligência rectangular.
segunda-feira, agosto 08, 2005
Uma abada
Um amigo realizador prepara-se para montar filme de seis horas, filmado em dois locais, com um protagonista e um monólogo (em off). "Vou dar uma abada ao Oliveira", diz ele.
Dois recortes sobre o cabeçalho que me fizeram
(...) o universo cubista aparece como um universo do descontínuo. É nisto que sobretudo consiste a sua novidade. E é nisto também que ele se concilia com um estado de espírito geral, próprio da nossa época: disso se darão conta os que o compararem às obras de arte de ramos diferentes que lhe são contemporâneas, as da poesia, por exemplo, que escapam ao discurso, como escapam à regularidade métrica e à pontuação, e se apresentam sob a forma de fragmentos e de instantâneos. A velocidade é talvez a causa dessa redução a choques e dessa pulverização; talvez também as revelações da psicologia abissal. Na música observa-se o mesmo fenómeno com a desaparição progressiva das coerências tonais, e com essa luta empreendida desde Stravinsky contra a melodia, e mesmo contra os sons enquanto susceptíveis de criarem imediatamente outro som: donde a sua tendência a confinarem com o ruído e a combinarem-se não já em melodia ou harmonia, mas em ritmos brutos, ou mesmo em ritmos de ritmos. Passemos aqui imediatamente ao domínio da pintura: a analogia impõe-se com as síncopes plásticas do cubismo, e com os "objectos no espaço" e os "contrastes de formas" de Fernand Léger, o mais poderoso antimelodista dos pintores de hoje. Mas toda a arte cubista é feita assim de peças relacionadas, de cortes e de exclusões, de apresentações do objecto no seu estado mais directo, à maneira de um som puro, quase um ruído, de uma palavra nua, de um conceito e de pedaços desse objecto e, em segunda instância, de pedaços formados de pedaços. O universo do contínuo é abolido (...)
Introdução ao catálogo da exposição do Cubismo, Museu Nacional de Arte Moderna, 1953, por Jean Cassou.
(...) se, vendo uma pintura, a escola a que ela pertence ressalta com maior força do que a pintura em si mesma, não auguro nada de bom para essa pintura (...)
Resposta a um inquérito, Documents, nº 5, Paris, 1930. Citado em: Juan Gris, por D. H. Kahnweiler, Gallimard, 1946
Introdução ao catálogo da exposição do Cubismo, Museu Nacional de Arte Moderna, 1953, por Jean Cassou.
(...) se, vendo uma pintura, a escola a que ela pertence ressalta com maior força do que a pintura em si mesma, não auguro nada de bom para essa pintura (...)
Resposta a um inquérito, Documents, nº 5, Paris, 1930. Citado em: Juan Gris, por D. H. Kahnweiler, Gallimard, 1946
Um novo consumidor
As pessoas não têm consciência da despesa em que se metem. É um novo consumidor que passam a sustentar.
* de uma conversa ouvida ontem à noite.
* de uma conversa ouvida ontem à noite.
domingo, agosto 07, 2005
sexta-feira, agosto 05, 2005
quinta-feira, agosto 04, 2005
The Unforgettable Fire
Todos os anos o País se desfaz debaixo de chamas negligentes ou criminosas. No início de cada Verão pensamos que já só há quintais para pegar fogo, mas eis que ainda arde uma serra longínqua ou um pinhal obscuro. Todos os anos nos falam de prevenção, reforço de meios, implacabilidade na lei. E todos os anos esta merda arde mais um muito. São estradas cortadas, desalojados, o pânico em vilas inteiras. A minha cidade estava hoje com ar dantesco. E eu pergunto: se não somos capazes de impedir isto, não haverá um grupo económico que pegue neste País?
Só falta a águia em cima do T (post desactualizado)
Et voilá!,já tenho links, eu nunca mais tinha links se não fosse a P. Mas estas mexidas no template deixaram a página com ar de decreto, com a Tesoura a impôr-se, ameaçadora, sobre os quatro amigos que cá vêm. E "recortes sobre tudo" a avisar que nem as cabecinhas se salvam. Vou tentar encontrar na net a Horst Wessel Lied.
quarta-feira, agosto 03, 2005
Chop Suey (2)
Havia quem trabalhasse de graça, por metade do que tu ganhas, havia quem pagasse para trabalhar aqui, por isso, lamento, mas vais ficar sem fim-de-semana.
Pobre (2)
Procuro consolo nos comboios polacos, na música dos bares croatas, no relato de uns amigos sobre a Mauritânia. Não adianta nada.
terça-feira, agosto 02, 2005
segunda-feira, agosto 01, 2005
¡A tomar por culo!
Numa miserável troca de dinheiros perdeu-se um dos títulos mais emblemáticos do País (inscrito na história do Porto há 151 anos) e atirou-se para o desemprego dezenas de jornalistas. Vai daqui um forte abraço para o pessoal.