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quarta-feira, novembro 30, 2005

1888 - 1935



Depois de amanhã terei a pose pública que amanhã estudarei.
Depois de amanhã serei finalmente o que hoje não posso nunca ser.


Fernando Pessoa (aka Álvaro de Campos), Adiamento

Alegre/Soares

Alegre: Foi entalado com perguntas sobre Mário Soares e o PS e permaneceu assim, entalado, respirando bolhinhas retóricas sem consequência.

Soares: Preparavam-se para o entalar com perguntas sobre Alegre e o PS mas ele fugiu, podendo então desfiar currículo e falar sobre o que lhe apeteceu.

Nun'Álvares

Com o provável encerramento do Nun'Álvares, no final do ano, desaparece o último cinema de bairro do Porto - e é muito bem feito. A cidade do primeiro realizador português (Aurélio Paz dos Reis), da primeira grande produtora nacional (Invicta Filmes) e do cineclube mais importante (nos anos em que os cineclubes foram importantes – anos 40 a 70), viu extinguirem-se todas as salas por falta de público. Guardo boas recordações do Foco, do Pedro Cem, dos Lumiére, do Charlot e até do Vale Formoso e do Batalha, mas o Nun'Álvares é o meu Cinema. Desde 1996, quando passou a ser programado pela Medeia, perdi quatro ou cinco filmes. Vi ali Rohmer, Kieslowski, Kiarostami, Cassavetes, Egoyan, Assayas, Techiné, Moretti ou o mais recente Herzog. Vi filmes quase impossíveis de ver noutra sala do Porto. E vi-os como gosto de ver filmes: rodeado de apreciadores de filmes. Que estão calados, não mastigam, não se mexem. Infelizmente, essa espécie morreu. Já não há legado cinéfilo na cidade. Já ninguém quer saber de filmes de autor ou de documentários. Querem encher-se de francesinhas e de pipocas a ver um filme escolhido à pressa, um qualquer, sff, para onde haja bilhetes. É uma romaria ao shopping, não é uma ida ao cinema. E a culpa não é dos que vão ao shopping, que sempre foram e sempre hão-de ir e ainda bem que o fazem. O lamentável são os “cultos” da cidade, que deixaram as salas fecharem, que trocaram o cinema pelas francesinhas. No outro espaço que resiste (mas que já não é um cinema como é o Nun’Álvares), o auditório do Campo Alegre, assisti há duas semanas à estreia do Quixote, do Orson Welles. Assisti eu e um amigo. Assistiu o casal em frente. Assistiu um indivíduo do meu lado esquerdo. E assistiu um fulano na primeira fila. Éramos seis pessoas mais o projeccionista. E foi um filme noticiado em todos jornais. Pergunto: vale a pena um homem incomodar-se a trazer filmes que ninguém vê? E repito: a culpa não é da garotagem que vai aos shoppings, não é do esvaziamento da cidade, não é das melhores salas com melhores condições – a culpa é inteiramente dos “cinéfilos”, que já morreram ou desistiram.

A decisão de encerramento ainda não é definitiva. Quem pode fazer alguma coisa porque acha que deve o momento é este. Comprar um bilhete já não é mau (a ver se o aguentamos até à estreia do Aurora, pelo menos.)

Há ideia de criar uma cinemateca em Gaia, aventada pelo Dorminsky. Talvez ainda hajam cinéfilos do lado de lá.

segunda-feira, novembro 28, 2005

Praxe

Há uma frase só ao alcance daqueles que atingiram o cume do estrelato e que é, ao mesmo tempo, a legitimação desse estatuto e o passo em frente, em direccção ao mito: “Eu não sou representante de geração nenhuma, pá”.

segunda-feira, novembro 21, 2005

Nós e aquilo



Escrever sobre um espectáculo de Sigur Rós é exercício inútil. Vai-se dizer o quê, que no terceiro tema revisitaram a quarta faixa do primeiro álbum. Ou que "as brumas sonoras formavam tapetes para a interpretação de Jonsi". Ou disparates destes. Pode-se descarregar adjectivos: glorioso, hipnótico, magnífico. "Uma droga espiritual", como ouvi dizer. Mas não serve de nada nem dá ideia alguma. O único texto aceitável seria um poema épico por alguém que soubesse fazer um poema épico. O resto serve apenas para encher jornais e experimentar a escrita. Porque Sigur Rós é um contacto puro com nós próprios (pelo menos com aqueles que se calam durante o espectáculo). E é puro porque é abstracto (como a música clássica), dirimindo-se as mensagens e os lugares comuns, sejam eles estados de espírito ou reflexões. Pode ver-se toda a gente com a mesma cara, aparvalhada, mas o que vai dentro de uma não é igual ao que vai dentro de outra. Poderá sugerir-se alguns ambientes, alguns temas. Em entrevistas eles falaram da "infância". Mas nós não percebemos islandês. O que eles dizem ali não nos diz nada. Não há qualquer fronteira à interpretação. Podemos fechar os olhos e seguir. Para bem longe, como todos os outros, mas para um lugar diferente. Nosso. Porque durante aquelas duas horas somos só nós e aquilo.

Sim, há uma certa paz mística ou coisa do género. E é ao ver concertos destes que percebo que já não há pachorra para bandas de "meia bola e força". E resulta muito melhor ao vivo do que em disco (e o último disco nem sequer é tão bom). Mas o espectáculo foi tão bom como o primeiro. E… olha.
Em breve, tentarei colocar imagem do Coliseu do Porto.

quinta-feira, novembro 17, 2005


porto de Helsínquia, no sexto minuto

Um momento produtivo

Durante os cinco minutos em que o ouviu elaborou cuidadosamente uma lista de compras, revisitou uma passagem da Avenida Nevski, observou as pernas de uma mulher de casaco escuro e pensou na conversa mal resolvida que tivera ao telefone.

segunda-feira, novembro 14, 2005

K7

Há aqueles que discutem, com maior ou menor elevação e qualidade de argumentos. E há aqueles que proclamam, indiferentes à elevação do outro ou à porcaria de argumentos que ele possa ter.

Homónimo

Quando ouvimos o nosso nome num local público imediatamente nos voltamos, e mesmo quando se refere a outro não evitamos uma breve curiosidade: ver a cara dele ou ouvir o que dizem sobre ele. Este "Ricardo", do centro comercial, tinha dado "um testo à mulher" e já não era a primeira vez.

quinta-feira, novembro 10, 2005

Tio Vânia

(...) Durante vinte e cinco anos um homem lê e escreve sobre arte sem perceber nada de arte. Durante vinte e cinco anos remói ideias alheias sobre o realismo, o naturalismo e todas essas tolices; durante vinte e cinco anos lê e escreve sobre coisas que as pessoas inteligentes já sabem há muito tempo e de que os tolos não querem saber - quer dizer, vinte e cinco anos a despejar do oco para o vazio. E ao mesmo tempo que presunção! Que pretensões! Reformou-se e ninguém o conhece, é um perfeito desconhecido; quer dizer que durante vinte e cinco anos ocupou um lugar que não era dele. Mas olha: caminha como um semideus! (...)

Tchékhov, O Tio Vânia

[Entre hoje e 4 de Dezembro no Teatro Carlos Alberto, no Porto. Encenação de Nuno Carinhas]

Distância (2)

E também acho que o cérebro é um organismo como o fígado ou o estômago, que por vezes nos surpreende após a ingestão de alimentos que já nem lembramos.

quarta-feira, novembro 09, 2005

Distância

Temos a ilusão de proximidade com o cérebro porque o utilizamos conscientemente, ao contrário dos rins, mas não controlamos certas raivas e paixões, não obliteramos medos, não eliminamos memórias, somos tomados pelo arrependimento e pela inquietação. E podemos explicar tudo, mapear tudo, contar a alguém que nos explique. Sabemos de onde vem, mas estancamos ali, à mercê, incapazes de montar o circo mental que nos convém. Estamos longe do cérebro como dos rins.

sexta-feira, novembro 04, 2005


Foto: Pedro Granadeiro

Os sábios

Um grupo de sábios estudava o que fazer. Dispusera-se em círculo, junto à grade, colhendo o sol em pleno jardim. Parecia extremamente preocupado com a situação, e nem as moscas, especialmente ariscas e impertinentes, pareciam afastá-los da reflexão. Era um momento grave e solene. Havia que decidir.

Um dos sábios escutava atentamente sugestões que lhe eram dadas ao ouvido. Eram dois jovens sábios, ainda algo imaturos nestas matérias, mas o outro apreciava as ideias da juventude, mesmo que raramente as seguisse. Apreciava, sobretudo, que lhe segredassem ao ouvido. Isso e que se calassem quando falava. Gostava de silêncio e de circunspecção quando tomava a palavra, o que geralmente acontecia após diversas consultas e segredos, e jamais sem um tom de voz definitivo e incontestável. Quando se exprimia era o fim da reunião. Nada mais a acrescentar – pelo menos ali, diante de todos, não fosse escapar algum laivo de hesitação ou fragilidade. Quem discordasse, poderia fazê-lo depois, em privado, longe do olhar de terceiros.

Mas por vezes havia quem discordasse em público. Era um sábio não satisfeito com a sua condição. Tinha tanto cabelo, dentes, e porte ancestral como o primeiro: não era justo que a sua voz fosse ouvida com menos atenção. Também gostava que lhe falassem ao ouvido, mas os jovens teimavam em preferir o outro. Punha-se então algo amuado, algo nervoso, tomando uma postura quase hostil em relação ao grupo. Reparava também em quem passava e lançava olhares furibundos se alguém parasse. Não porque desejasse discrição, mas simplesmente porque estava enervado. Era um sábio invejoso.

O sábio principal herdara o estatuto de um sábio mais velho, que ainda comparecia, mas que não abria a boca. Era o único que se incomodava com as moscas. E que não parecia atribuir especial importância àquele momento, ou a qualquer outro, desde que houvesse carne, uma sombra e água fresca para beber. Emprestava sobretudo a antiguidade, o crédito de quem em tempos soubera gerir o monopólio dos segredos. Punha um ar ausente como se já não houvesse sabedoria que o impressionasse. Jovens, adultos, de meia-idade, todos eles lhe podiam contar coisas extraordinárias, as sugestões mais sagazes, que o velho já nem abanava as patas. Limitava-se a mastigar, a protestar com as moscas, e por vezes a adormecer ainda antes das reuniões começarem. No final aprovava qualquer decisão e os outros fingiam importar-se com isso.

Mas se estes três dividiam entre si os principais galões e incumbências, o calor do debate era alimentado por outros dois sábios, um pouco mais jovens, mas já em idade de lhes soprarem a eles ao ouvido. Não pensavam muito nisso por enquanto. Era ainda tempo de prestar provas, de entusiasmar os ouvintes. Esperavam um futuro diáfano, certamente, mas reconheciam ser ainda imberbes diante dos outros. Não obstante, gesticulavam ruidosos e pareciam embrenhados numa questão pessoal. Como se estivessem já a competir pela futura sucessão. Um deles berrava bastante mais, é certo, e conseguia impedir a livre expressão do outro. Mas este optava por levantar os braços, bater com os mãos, fazer granel, o que surtia praticamente o mesmo efeito. No fundo, anulavam-se mutuamente e não se chegava a entender o que pretendiam.

O chefe do grupo observava-os em silêncio. Sempre rodeado de conselheiros, ia inclinando a cabeça para um lado e para o outro. Soltava uns risinhos de vez em quando, como se gozasse com as sugestões. Nada parecia suficientemente sério para que se dignasse a reflectir. Por vezes olhava para o seu mais directo concorrente e abria a boca mostrando-lhe os dentes. Não sorria exactamente, era mais uma provocação ou desafio. O outro percebia a mensagem e franzia a testa, esforçando-se por ignorá-lo. Mas no seu íntimo sabia que iria ser sempre a oposição, e com o passar dos anos uma oposição cada vez mais rancorosa e ineficaz.

A única ameaça ao líder provinha dos dois sábios intermédios, que apesar de bastante toscos, na sua opinião, conseguiam efectivamente cativar pela quantidade de grunhidos e palavrões. Era sobretudo uma aliança entre os dois que ele temia, e por isso esforçava-se por dividi-los, alternando o assentimento às suas intervenções. Numa dada sessão concordava com A, oferecendo um olhar maliciosamente benévolo e mantendo um silêncio trancado com raiva. Sentia vontade de lhe ir à garganta, mas observava B, ainda mais furioso, e deixava que a estratégia seguisse. Contava sempre com o apoio dos mais jovens, que se limitavam a acompanhar o líder nas suas apreciações. Mal entendiam que era B o escolhido, logo se arrastavam para junto dele, abanando a testa com toda a parcimónia e deferência. Isto permitia que A resfolegasse e se torcesse, até uma próxima sessão, onde seria ele o dono de todas as blandícias.

Naquele dia, porém, e uma vez que se impunham decisões sérias e ponderadas, o líder do grupo esqueceu a artimanha e não chegou a concordar com nenhum deles. O que resultou numa situação algo estranha, em que depois de muitas altercações e insultos, os dois sábios acabaram a olhar um para o outro, surpreendidos, sem mais nada a dizer. Puseram-se então a comer nozes, a afastar as moscas, como se estivessem desprovidos de qualquer função. Haviam cessado também os cochichos, com o líder a afastar os pequenos sábios com um gesto rude, e estes a regressarem ao seu lugar encolhidos e temerosos. O sábio mais velho dormitava docemente, com a barriga a inchar e a diminuir numa cadência incerta. Enquanto a oposição se preparava para desdenhar e desobedecer.

Então ergueu-se o líder, pesadamente, sem dizer palavra. Sacudiu as folhas e o saibro, deu uma cambalhota e foi rosnar um pouco junto aos que passavam. Encostou-se bem à grade, voltando-se de costas e encarando os outros. Soprava um vento forte e o pêlo dos sábios eriçava-se. Todos eles aguardavam ansiosamente pela decisão. Que veio em forma de um uivo, bastante assustador mas esclarecido. Pertencia ao líder, e só ao líder, o grande naco de carne que se encontrava no chão. Pertencia ao líder, e só ao líder, o grande ramo de palmeira onde se iria deitar. E pertencia ao líder, e só mesmo ao líder, a única sábia do grupo que jamais participava nas reuniões.

terça-feira, novembro 01, 2005

E só responde às inócuas