Em maré de links, deixo aqui a morada de um novo banco de imagens, cujo conteúdo, na maior parte, é da autoria de amigos. Podem passear, inscrever trabalhos, fazer perguntas. Mas o que eles preferem é o vosso guito.
sábado, setembro 30, 2006
Em maré de links, deixo aqui a morada de um novo banco de imagens, cujo conteúdo, na maior parte, é da autoria de amigos. Podem passear, inscrever trabalhos, fazer perguntas. Mas o que eles preferem é o vosso guito.
sexta-feira, setembro 29, 2006
Islamicamente correcto
(...) Bastou uma chamada anónima e Kirsten Harms, a directora, aterrorizada, despiu o "tailleur", pôs a "burka" e despediu Mozart com justa causa. (...)
Mais uma crónica imprescindível de Manuel António Pina.
Mais uma crónica imprescindível de Manuel António Pina.
Terapias
(...) Com todas as suas incongruências, as teorias da conspiração são ainda assim, porventura assim mesmo, de uma lógica quase sem falhas, uma lógica de autodefesa de um psiquismo primário, que prefere como causa do mal absoluto a vulgaridade do seu mundo à estranheza do desconhecido. (...)
Para ler inteiro.
Para ler inteiro.
quinta-feira, setembro 28, 2006
Frases
(...) Desvario laborioso e empobrecedor é o de compor vastos livros; o de espraiar por quinhentas páginas uma ideia cuja perfeita exposição oral cabe em poucos minutos. Melhor procedimento é simular que esses livros já existem e oferecer um resumo, um comentário. (...)
Jorge Luís Borges, no prólogo às Ficções (1944)
Jorge Luís Borges, no prólogo às Ficções (1944)
Meti uns 300 caracteres neste livrinho que reúne alguns dos bloggers que mais aprecio. E como já o tenho em mãos há algum tempo (graças a um infiltrado na gráfica), guardei na carteira frases como esta:
"As mulheres de sorriso amarelo devem ser cumprimentadas em mandarim." (HR)
O lançamento é hoje, às 18.30, junto à esplanada do Adamastor (entrada pelo café Noobai). Gosto muito do sítio, mas não me vai dar jeito.
quarta-feira, setembro 20, 2006
Ribeira
Tenho seguido a série de posts no Da literatura sobre o Bairro Alto, onde se tem apontado sobretudo a sujidade e a bandalheira. Eu, quando vou a Lisboa, gosto de passar no Bairro, mas também não saberia dizer se é mais imundo agora ou há 20 anos. É tão imundo como a Chueca, em Madrid, ou a Malasagna (se falamos de grafitti e de acumulação de copos e de enxúndia); é tão imundo como Kreuzberg ou outras zonas nocturnas de Berlim; e é um bocado mais imundo que Trastevere (mas a bandalheira é igual). O que está extremamente limpinho é a Ribeira do Porto. Tão limpinho que ninguém se atreve a ir lá sujá-la. Há mais de cinco anos que resplandece.
Mas eu preferia, como os lisboetas, estar a dizer que aquilo é tudo um nojo e uma pouca vergonha. Era sinal que valia a pena dizer alguma coisa. Porque sobre a Ribeira, actualmente, não há nada a dizer. “Ou és assaltado ou és multado”, dizia alguém há uns tempos. Eu acho que já nem assaltado. Não há ali ladrão que subsista. Primeiro, fecharam os bares históricos: o Meia Cave ou o Aniki Bobó. As esplanadas juntam alguns turistas nos meses de Verão (fui lá duas vezes em Julho e vi grupos de loiras no desemprego), e no resto do ano são habitadas por jagunços. Depois há os “novos horários”, uma das razões invocadas para o degredo. Aparentemente, as licenças são válidas até às duas horas, o que seria uma explicação. Mas o único sítio onde vou, muito de longe a longe, além do Boa Nova (pelas pataniscas), é o Mercedes, que fecha depois das quatro. Nunca percebi nada dos “novos horários”.
Percebo o cansaço. A pancadaria constante, os sacos de água e de lexívia, a sensação de invadir a aldeia dos gauleses. Houve sempre os de lá e os de fora, coisa inconcebível para uma zona histórica, que devia ser de todos. Isto cansou as pessoas. Que deixaram de lá ir. Agora, efectivamente, a Ribeira está um brinco. Com polícias por toda a parte e as paredes limpas. Só não há é qualquer razão para lá pôr os pés.
segunda-feira, setembro 18, 2006
Negros
(...) Querer escrever para os negros seria fruto dessa abjecção moral que consiste em curvar-se generosamente, com toda a compreensão, para os fracos, em comprazer-se na boa consciência, em julgar-se dispensado de qualquer acção eficaz. (...) É preciso desconfiarmos do nosso entusiasmo pelas causas generosas, pois ele transforma-se rapidamente em auto-complacência. Não tardaria a sentirmo-nos seguros de nós mesmos, atolando-nos na gelatina de um conforto moral muito satisfatório. Porque, no fim de contas, é bastante agradável defender os oprimidos pela palavra ou pela pena, quando se beneficia, simultaneamente, das benesses da comunidade opressora e da gratidão dos oprimidos (...)
Do prefácio de Jean Genet a Os Negros (1958), espectáculo em cena no Teatro São João até 8 de Outubro. "Uma peça não em favor dos negros, mas contra os brancos".
sexta-feira, setembro 15, 2006
Pousar o livro
Hoje, ao fim da tarde, o mar estava violentíssimo na Foz do Douro. Ondas diagonais e ribombantes a explodirem contra as rochas; nem um só surfista na água. No céu, um emaranhado de nuvens vermelhas e caóticas, uma espécie de cortina de sangue e de fumo, por onde latejava o sol, hesitante, em pequenos feixes. Ao longe, um navio de quatro mastros impresso contra um halo de luz pálida (qualquer coisa entre Turner e Christian Dahl). Fui à Praia da Luz com o propósito de ler mas pousei o livro.
segunda-feira, setembro 11, 2006
As primeiras testemunhas
Estas imagens têm apenas cinco anos. Mas parecem agora existir desde sempre, como mais um clássico da experiência humana. Como o cogumelo de Hiroxima ou o vapor dos fornos no céu de Auschwitz.
No Público, perguntava-se se daqui a "200 anos ainda vamos pensar que o 11 de Setembro mudou o mundo”. E entre as várias ideias, dos vários historiadores, aproximo-me especialmente da de Rui Ramos, quando diz: “as grandes narrativas da história têm a ver com a importância das coisas no presente. E a importância das coisas tem a ver com os países que na altura são dominantes. Não podemos situar o 11 de Setembro num mundo chinês ou indiano”.
Atenho-me às imagens. Que parecem agora existir desde sempre. O que se torna improvável, em qualquer momento da história - em qualquer momento da história em que se vejam essas imagens (porque poderão não ser vistas, ou ser deturpadas, ou vir acompanhadas de qualquer legenda) –, o que se torna improvável é subtraí-las à sua grandeza. Algo de muito grande e espectacular, algo de indelével, mesmo aos olhos furtivos de um chinês em 2206.
Sabemos, agora, que as imagens existem desde sempre. Que a nossa vida é já inseparável da sua presença. E que somos apenas as primeiras testemunhas.
domingo, setembro 10, 2006
Verdades de conveniência (2)
Songs that saved our life: quando havia ainda alguma coisa para salvar.
Verdades de conveniência
Não há verdadeiramente frases que nos salvem ou iluminem de forma definitiva. O que há são frases que nos convêm num certo momento.
sexta-feira, setembro 08, 2006
Morrer de amor
O homem é o único animal capaz de morrer de ódio.
Manuel António Pina, numa das suas brevíssimas e excelentes crónicas no JN.
Manuel António Pina, numa das suas brevíssimas e excelentes crónicas no JN.
segunda-feira, setembro 04, 2006
Miles: I'm so insignificant, I can't even kill myself.
Jack: What's that supposed to mean?
Miles: You know -- Hemingway, Sexton, Woolf, Plath, Delmore Schwartz. You can't kill yourself before you've even been published.
Jack: What about that guy who wrote Confederacy of Dunces?
He committed suicide before he got published, and look how famous he is.
Miles: Thanks.
(Sideways, 2004, Alexander Payne)
Muito antes
A “morte” do Independente lembra-me outras mortes, em que também não foi no momento em que se consumaram que as senti. Há mortes que são choradas muito antes do caixão.
sexta-feira, setembro 01, 2006
O Independente
Não é agora que vou ao funeral (a atirar flores, tinha-o feito há mais de dez anos), mas também eu fui leitor fiel do velho Indy, que comprava sobretudo pelos textos do VPV, do MEC e do João Bénard. O caderno principal praticamente não lia: espreitava os títulos, que eram bem esgalhados. E devorava a revista, desde o "rantanplan" à Filosofia de Ponta. Não me interessava a orientação política, nem o "programa": lia o jornal por algumas prosas e pela aragem. Depois, deixei de o comprar. E actualmente não significava nicles. Ficam as exéquias atrasadas, e um obrigado tardio ao título mais importante da minha adolescência.